Construção sem urbano: a hipergestão da produção habitacional de empresas de capital aberto no Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202239

Palavras-chave:

Construção Civil, Habitação, Incorporadoras Imobiliárias, Empresas Construtoras, Gestão da Produção, Produção do Espaço Urbano

Resumo

Este artigo procura analisar estratégias de grandes empresas construtoras e incorporadoras de capital aberto na produção de habitação após a recessão econômica de 2014 no Brasil. Os resultados da pesquisa qualitativa multimétodos realizada revelam que essas estratégias se basearam em cálculos e instrumentos financeiros e colaboraram na consolidação de um campo de empresas que controla pontos díspares do setor da construção habitacional, de serviços financeiros à fabricação de componentes de obra. Tal ampliação de controle produtivo se deve ao que se denomina aqui de “hipergestão da produção”, que combina, em diferentes níveis, padronização, tecnologia gerencial, governança corporativa e arranjos políticos sobre formulação de normas técnicas e de programas públicos. A hipergestão se desvinculou não apenas de qualidades do urbano, como também do próprio espaço, e foi impulsionada pelo valor do dinheiro no tempo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lucia Shimbo, Universidade de São Paulo, Instituto de Arquitetura e Urbanismo, São Carlos, SP, Brasil

Arquiteta e urbanista, mestre e doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo, onde, atualmente, atua como professora associada. Pesquisadora do CNPq e coordenadora da equipe brasileira do Projeto de Pesquisa Internacional ValuaTerra (IRP-CNRS). Foi pesquisadora visitante no Collegium de Lyon (Universidade de Lyon) em 2018-2019.

José Eduardo Baravelli, Universidade de São Paulo, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, São Paulo, SP, Brasil

Arquiteto e urbanista, mestre e doutor em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo, e coordenador do Laboratório de Cultura Construtiva do Departamento de Tecnologia da Arquitetura (LCC/AUT).

Referências

ABNT. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15.575-1: Edificações habitacionais – Desempenho - Parte 1: Requisitos gerais. Rio de Janeiro: ABNT, 2013.

BARAVELLI, J. Trabalho e tecnologia no programa MCMV. São Paulo: Annablume, 2017.

BARROS, M. Metodologia para implantação de tecnologias construtivas racionalizadas na produção de edifícios. Tese de doutorado. São Paulo: EP/USP, 1996.

BLACHÈRE, G. Building principles. Working paper, Report EUR, 11320 EN, Luxembourg, 1988.

BOUSSARD, V. Finance at Work. London, New York: Routledge, 2017.

BRUNA, P. Arquitetura, Industrialização e Desenvolvimento. 2ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2002 [1976].

CARVALHO, M.; LAURINDO, F. Estratégia Competitiva. São Paulo: Atlas, 2010.

CEOTTO, L. A industrialização da construção de edifícios: de passado letárgico para um futuro promissor. In: FARIA, C. (Org.) Inovação na construção civil. São Paulo: Instituto Uniemp, p. 85-106, 2005.

CHIAPELLO, E. Financialization of Valuation. Human Studies. Ed. 38 (1), p. 13-35. Berlin: Springer, 2015.

CHIAPELLO, E. Financialization as a socio-technical process. In: MADER, P.; MERTENS, D.; VAN DER ZWAN, N. The Routledge International Handbook of Financialization. London: Routledge, 2020, p. 1-11.

FARAH, M. Processo de trabalho na construção habitacional: tradição e mudança. São Paulo: Annablume, 1996.

FERRO, S. A produção da casa no Brasil. In: FERRO, S. Arquitetura e trabalho livre. São Paulo: Cosac Naify, 2006 [1969], p. 61-104.

FERRO, S. O canteiro e o desenho. In: FERRO, S. Arquitetura e trabalho livre. São Paulo: Cosac Naify, 2006 [1976], p. 105-202.

FERRO, S. Sobre o canteiro e o desenho. In: FERRO, S. Arquitetura e trabalho livre. São Paulo: Cosac Naify, 2006 [2003], p. 321-418.

FIX, M. Financeirização e transformações recentes no circuito imobiliário no Brasil. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2011. Disponível em: http://repositorio.unicamp.br/jspui/handle/REPOSIP/286383. Acesso em: 14 fev. 2020.

GANN, D. Construction as a manufacturing process? Similarities and differences between industrialized housing and car production in Japan. Construction Management & Economics. v. 14, n. 5, p. 437-450, 1996. doi 10.1080/014461996373304.

HAMEL, G.; PRAHALAD, C. Competing for the future. Cambridge: Harvard Business School Press, 1994.

IBGE. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Anual da Indústria da Construção – 2018. Rio de Janeiro: IBGE, 2019.

KOSKELA, L. Application of the new production philosophy to construction. Palo Alto: Stanford/CIFE, 1992.

MARICATO, E. Por um novo enfoque teórico na pesquisa sobre habitação. Cadernos metrópole, n. 21, p. 33-52, 2009.

MELAZZO, E.; ABREU, M.; BARCELLA, B.; FERREIRA, J. Securitização da habitação e Financeirização da cidade no Brasil. Mercator, Fortaleza, v. 20, ed. 20029, 2021 DOI: 10.4215/rm2021.e20029, p. 1-15

MEZZADRA, S.; NEILSON, B. Operations of Capital. The South Atlantic Quarterly, Durham, v. 114, n. 1, p. 1-9, 2015. DOI: 10.1215/00382876-2831246.

MIOTO; B.; PENHA FILHO, C. Crise econômica e o setor imobiliário no Brasil: um olhar a partir da dinâmica das maiores empresas de capital aberto (Cyrela, PDG, Gafisa e MRV). In: SHIMBO, L.; RUFINO, B. (Orgs.) Financeirização e estudos urbanos na América Latina. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2019, p. 29-59.

MOURA, A. Novas soluções, velhas contradições: a dinâmica cíclica da industrialização em sua forma canteiro. 2011. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Unversidade de São Paulo, São Paulo, 2011. DOI: 10.11606/D.16.2011.tde-02022012-104829.

PANAIA, M. El sector de la construcción: un proceso de industrialización inconcluso. Buenos Aires: Nobuko Sa, 2004.

PEREIRA, P. C. X.; OSEKI, J. H.; MAUTNER, Y.; MARICATO, E. Bibliografia sobre a indústria da construção: reflexão crítica, Sinopses, São Paulo, vol. 16, , p. 36-45, 1991.

PEREIRA, P. C. X. Finanças e imobiliário: o “novo” moinho satânico globalizado. In: II Congreso Latinoamericano de Teoría Social y Teoría Política: Horizontes y dilemas del pensamiento contemporáneo en el sur global, 2017, Buenos Aires. Anais […]. Buenos Aires: UBA, 2017.

PIACENTE, D. Tecnologia das empresas de capital aberto na construção de habitação. Relatório de Iniciação Científica. São Paulo: USP, 2019.

PICCHI, F. Sistema da qualidade: uso em empresas de construção de edifícios. Tese de Doutorado. São Paulo: EP/PCC/USP, 1993.

ROLNIK, R. Guerra dos lugares: a colonização da terra e da moradia na era das finanças. São Paulo: Boitempo, 2015.

RUFINO, B. Incorporação da Metrópole: transformações na produção imobiliária e do espaço na Fortaleza do século XXI. São Paulo: Annablume, 2016.

SABBATINI, F. Desenvolvimento de métodos, processos e sistemas construtivos. Tese de Doutorado. São Paulo: EP/USP, 1989.

SABBATINI, F. A industrialização e o processo de produção de vedações. In: BARROS, M.; SABBATINI, F.; MEDEIROS, J. (Org.) Seminário de tecnologia e gestão na produção de edifícios. São Paulo: EP/USP, 1998, p. 52-67.

SALAS, J. De los sistemas de prefabricación cerrada a la industrialización sutil de la edificación. In: Informes de la Construcción, Madrid, v. 60, n. 512, 2008, p. 19-34.

SANFELICI, D. A metrópole sob o ritmo das finanças: implicações socioespaciais da expansão imobiliária no Brasil. 2013. Tese (Doutorado), Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8136/tde-07012014-093205/. Acesso em: 14 fev. 2020.

SANFELICI, D.; HALBERT, L. Financial markets, developers and the geographies of housing in Brazil: A supply-side account. Urban Studies, v. 53, n. 7, p. 1465-1485, 2016.

SARJA, A.; HANNUS, M. Modular systematics for the industrialized building, VTT Technical Research Centre of Finland, 1995.

SEBESTEYÈN, G. Construction: craft to industry. London, New York: E&FN Spon, 1998.

SHIMBO, L. Habitação social de mercado: A confluência entre Estado, empresas construtoras e capital financeiro. Belo Horizonte: C/Arte, 2012.

SOUZA, U. Como aumentar a eficiência da mão-de-obra. São Paulo: Pini, 2006.

TOPALOV, C. Les promoteurs immobiliers: contribution à l’analyse de la production capitaliste du logement en France. Paris: Éditions de l’École des hautes études en sciences sociales, 1974.

VAN DER ZWAN, N. Making sense of Financialization. Socio-Economic Review, v. 12, p. 99-129, 2014.

VARGAS, N. Racionalidade e não-racionalização: o caso da construção habitacional. In: FLEURY, A.; VARGAS, N. Organização do trabalho: uma abordagem interdisciplinar, sete casos brasileiros para estudo. São Paulo: Atlas, 1983, p. 195-219.

VILLELA, F. Industria da construção civil e reestruturação produtiva: novas tecnologias e modos de socialização construindo o intelecto coletivo. Tese (Doutorado) – Unicamp, Campinas, 2007.

WEBER, R. Embedding futurity in urban governance: Redevelopment schemes and the time value of money. Environment and Planning A: Economy and Space. v. 53, n.3, 2021, p. 503-524. doi 10.1177/0308518X20936686

Publicado

27-12-2022

Como Citar

Shimbo, L., & Baravelli, J. E. . (2022). Construção sem urbano: a hipergestão da produção habitacional de empresas de capital aberto no Brasil. Revista Brasileira De Estudos Urbanos E Regionais, 24(1). https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202239

Edição

Seção

Artigos - Espaço, Economia e População