Jardins, pomares e o horto: as espécies vegetais introduzidas e seus espaços na cidade de Vila Rica, séculos XVIII e XIX

Autores

  • Leandro Vieira da Silva Instituto Estadual de Florestas, Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Belo Horizonte, MG, Brasil / Fundação Estadual do Meio Ambiente, Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Belo Horizonte, MG, Brasil https://orcid.org/0000-0002-9468-8760

DOI:

https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202542

Palavras-chave:

Paisagem urbana, História da cidade, Espaço Urbano, Arqueologia Urbana, Arqueologia da Paisagem, Vila Rica, Ouro Preto

Resumo

Desde os primórdios da implantação das primeiras cidades no Brasil, os colonizadores portugueses tomaram decisões que transformaram a paisagem natural. Ao longo de mais de trezentos anos de domínio lusitano, assistiu-se à edificação de construções suntuosas, como igrejas, palácios, fortes, casarões, pontes etc., bem como à introdução de várias espécies vegetais que fizeram parte de espaços como jardins, hortas, pomares, quintais e hortos botânicos. Partindo da problemática de que a manipulação da natureza marcou uma nova etapa na trajetória das cidades e entendendo que essas plantas são integrantes da cultura material arqueológica daquele contexto, a proposta deste artigo é discutir a importância socioeconômica dessas espécies, tomando como estudo de caso a cidade de Vila Rica, atual Ouro Preto. Do ponto de vista teórico, a pesquisa foi estruturada no conceito de paisagem e a metodologia baseou-se na leitura de relatos de viajantes, na pesquisa de coleções fotográficas do Arquivo Público Municipal de Ouro Preto, na recuperação de levantamentos (etno)botânicos realizados na cidade e na vistoria a sítios histórico-arqueológicos. O trabalho enfatiza a importância dos vegetais no assentamento dos colonos e no próprio desenvolvimento da urbe, analisa como jardins, pomares e o Horto Botânico de 1799 estavam situados na paisagem urbana e discorre sobre a ideologia do controle sobre a natureza, enquanto estratégia usada por Lisboa para desenvolver o seu projeto de colonização. 

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Biografia do Autor

Leandro Vieira da Silva, Instituto Estadual de Florestas, Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Belo Horizonte, MG, Brasil / Fundação Estadual do Meio Ambiente, Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, Belo Horizonte, MG, Brasil

Graduado em Geografia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) e em Biblioteconomia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Pós-graduado em Solos e Meio Ambiente pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Turismo e Meio Ambiente pela Universidade de Araraquara (Uniara) e em Planejamento Urbano pelo Centro Universitário Vale do Rio Verde (UninCor) com as respectivas monografias apresentando interface com temáticas arqueológicas. Atualmente, é pós-graduando em História da Arte pela Universidade Católica de Brasília (UCB). Mestre em Antropologia com área de concentração em Arqueologia pela UFMG e doutor em Arqueologia pela Universidade de São Paulo (USP). Integra os grupos de pesquisa História da Alimentação (UFMG), História Regional da Bahia (Uneb/UFRB) e o Núcleo de Estudos e Pesquisas Arqueológicas (Uesc). É servidor efetivo da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Minas Gerais. Na Fundação Estadual do Meio Ambiente, tem experiência em licenciamento ambiental, processos de auto de infração nas temáticas de arqueologia, espeleologia, unidades de conservação e processos erosivos e na gestão ambiental e arqueológica de minas abandonadas dos séculos XVIII e XIX. No Instituto Estadual de Florestas, tem experiência em criação de áreas protegidas, na análise de planos de manejo e na gestão do patrimônio arqueológico com atividades referentes ao turismo arqueológico, à educação patrimonial, à conservação dos sítios, a processos de tombamentos e apoio aos museus dos parques. 

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Publicado

08-08-2025

Como Citar

Silva, L. V. da. (2025). Jardins, pomares e o horto: as espécies vegetais introduzidas e seus espaços na cidade de Vila Rica, séculos XVIII e XIX. Revista Brasileira De Estudos Urbanos E Regionais, 27(1). https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202542