Deus ex machina ou Cavalo de Troia? Considerações sobre quatro décadas de smart cities

Autores

  • Lucas Pinto Seixas Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia, Campinas, SP, Brasil https://orcid.org/0000-0003-0180-0205
  • Lindon Fonseca Matias Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia, Campinas, SP, Brasil https://orcid.org/0000-0002-0098-771X

DOI:

https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202505

Palavras-chave:

Análise das políticas públicas, Desenvolvimento Urbano, Desigualdades socioespaciais, Espaço Urbano, Gestão Urbana e Regional, Planejamento urbano, Smart Cities

Resumo

O apelo por smart cities vem ganhando importância nas cidades em todo o mundo há aproximadamente quatro décadas. Os estudos urbanos no Brasil pouco têm se dedicado a compreender as implicações desse processo de uma perspectiva crítica. O presente artigo parte de uma perspectiva cética sobre a capacidade das smart cities de se constituírem como respostas aos desafios urbanos, revelando as principais formas e conteúdos que elas assumiram ao longo de suas trajetórias marcadas por transformações, que se iniciam no contexto pós-crise do capitalismo fordista e têm seu estágio mais atual no contexto capitalista de plataforma, condicionando diferentes elementos no espaço urbano. O presente artigo investiga as principais definições de smart city propostas por diferentes agentes, buscando também desvendar seu conteúdo político-econômico. A conclusão é de que, apesar de aparentar ser mecanismo importante de melhoria da qualidade de vida, contraditoriamente elas apresentam potencial de aprofundar as desigualdades sócio-espaciais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Lucas Pinto Seixas, Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia, Campinas, SP, Brasil

Doutorando em Geografia pelo Instituto de Geografia da Universidade Estadual de Campinas (IG/Unicamp). Pesquisador no grupo de pesquisa Geotecnologias Aplicadas à Gestão do Território.

Lindon Fonseca Matias, Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências, Departamento de Geografia, Campinas, SP, Brasil

Professor do Instituto de Geografia da Universidade Estadual de Campinas (IG/Unicamp). Líder do grupo de pesquisa Geotecnologias Aplicadas à Gestão do Território.

Referências

ABÍLIO, L. Uberização: a era do trabalhador just-in-time? Estudos Avançados, v. 30, n. 98, p. 111-126, 2020.

ALDEGHEISHEM, A. Assessing the progress of smart cities in Saudi Arabia. Smart Cities. v. 6, n. 4, p. 1958-1972, 2023.

ALMEIDA, G. As consultorias imobiliárias para empresas e os “eficícios inteligentes”: uma análise para a cidade de São Paulo. 2012. 203 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2012.

ANTUNES, R. (org.). Icebergs à deriva: o trabalho nas plataformas digitais. São Paulo: Boitempo, 2023.

BAPTISTA, A. T.; BOUILLET, E.; POMPEY, P. Towards an uncertainty aware short-term travel time prediction using GPS bus data: case study in Dublin. In: INTERNATIONAL IEEE CONFERENCE ON INTELLIGENT TRANSPORTATION SYSTEMS, 15., 2012, Anchorage. Proceedings […]. Anchorage, Alaska: IEEE, 2012.

BARBOUR, N.; ZHANG, Y.; MANNERING, F. A statistical analysis of bike sharing usage and its potential as an auto-trip substitute. Journal of Transport and Health, v. 12, p. 253-262, 2019.

BARNS, S. Platform urbanism: negotiating platform ecosystems in connected cities. Sydney: Palgrave Macmillan, 2020.

BATTY, M. Big data, smart cities and city planning. Dialogues in Human Geography, v. 3, n. 3, p. 274-279, 2013.

BATTY, M. et al. Smart cities of the future. The European Physical Journal Special Topics, v. 214, p. 481-518, 2012.

BERMAN, M. All that is solid melts into air: The experience of modernity. London: Verso, 1983.

CALDEIRA, T. Peripheral urbanization: autoconstruction, transversal logics and politics in cities of the global south. Environment and Planning D: Society and Space, v. 35, n. 1, p. 3-20, 2017.

CAPES. Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Catálogo de Teses e Dissertações. Disponível em: https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 20 out. 2022.

CASTELLS, M. A sociedade em rede. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.

CAVADA, M.; TIGHT, M. R.; ROGERS, C. D. F. A smart city case study of Singapore – Is Singapore truly smart? In: ANTHOPOULOS, L. Smart City Emergence. London: Elsevier, 2019. p. 295-314.

CITY OF LOS ANGELES. Smart LA 2028: technology for a better Los Angeles. Los Angeles: City of Los Angeles, 2020.

CUGURULLO, F. Frankenstein Urbanism: eco, smart and autonomous cities, Artificial Intelligence and the end of the city. London: Routledge. 2021.

DATTA, A. Postcolonial urban futures: imagining and governing India’s smart age. Environment and Planning D: Society and Space, v. 37, p. 393-410, 2019.

DAVIS, M. Planeta Favela. São Paulo: Boitempo, 2006.

DEGEN, M. M.; ROSE, G. The New Urban Aesthetic: digital experiences of urban change. London: Bloomsbury Publishing, 2022.

DUTTON, W. (ed.). Wired cities: shaping future communication. New York: Macmillan, 1987.

FRASER, N. Crise de legitimação? Sobre as contradições políticas do capitalismo financeirizado. Cadernos de Filosofia Alemã: Crítica e Modernidade, v. 23, n. 2, p. 153-188, 2018.

FRASER, N. O velho está morrendo e o novo não pode nascer. São Paulo: Boitempo, 2020.

FREITAS, J. A invenção da Cidade Inteligente Rio: uma análise do Centro de Operações Rio pela lente das mobilidades (2010-2016). 2018. Dissertação (Mestrado em História, Política e Bens Culturais) – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, 2018.

GOLUBCHIKOV, O. People-smart sustainable cities. Geneva: United Nations. 2020.

GONZALES, L. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, p. 223-244, 1984.

GRAHAM, S. Cities under siege: the new military urbanism. London: Verso. 2011.

GRAHAM, S.; MARVIN, S. Planning cybercities: integrating telecommunications into urban planning. Town Planning Review, v. 70, n. 1, p. 89-114, 1999.

GREENFIELD, A. Against the smart city: the city is here for you to use. 1.3. ed. New York: Do Projects, 2013.

HANLEY, R. Moving people, goods, and information in the 21st century: the cutting-edge infrastructures of networked cities. London: Routledge 2004.

HARVEY, D. The condition of postmodernity: An enquiry to origins of cultural change. Oxford: Wiley-Blackwell, 1989.

HARVEY, D. O enigma do capital: e as crises do capitalismo. Tradução: João Alexandre Peschanski. São Paulo: Boitempo, 2011.

HOLLANDS, R. Will the real smart city please stand up? City, v. 12, n. 3. p. 303-320. 2008.

HOLLANDS, R. Critical interventions into the corporate smart city. Cambridge Journal of Regions, Economy and Society, v. 8, n. 1, 2015.

HOMERO. Ilíada. Tradução: Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Ediouro, 2009.

ISHIDA, T.; ISBISTER, K. Digital cities: Technologies, experiences, and future perspectives. Berlin: Springer. 2000.

KANTER, R.; LITOW, S. Informed and connected: A manifesto for smarter cities. Boston: Harvard Business School, SSRN Electric Journey, 2009. (Working paper, 09-141).

KENNEY, M.; ZYSMAN, J. The platform Economy: restructuring the space of capitalist accumulation. Berkeley: BRIE, 2019. (BRIE Working paper, v. 11).

KHAN, S.; CAN, N. A.; MACHADO, H. Racism and racial surveillance: modernity matters. Routledge Research in Race and Ethnicity. London: Routledge, 2022.

KITCHIN, R. The programmable city. Environment and Planning B: Planning and Design, v. 38, p. 945-951, 2011.

KITCHIN, R. The data revolution: Big Data, Open Data, Data Infrastructures and their consequences. London: Sage, 2014.

KITCHIN, R. Reframing, reimagining and remaking smart cities. In: KITCHIN, R.; COLETTA, C.; EVANS, L.; HEAPHY, L. (ed.). Creating Smart Cities. London: Routledge, 2019.

KITCHIN, R.; COLETTA, C.; EVANS, L.; HEAPHY, L. Creating smart cities. London: Routledge. 2019.

KONMINOS, N. Intelligent cities: innovation, knowledge systems and digital spaces. London: Routledge, 2002.

LEFEBVRE, H. Espaço e Política. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2008.

LI, W.; BATTY, M.; GOODCHILD, M. F. Real-time GIS for smart cities. Journal of Geographical Information Science, 34(2), p. 311-324, 2020. DOI: https://doi.org/10.1080/13658816.2019.1673397.

LI, Y.; LIN, Y.; GEERTMAN, S. The development of smart cities in China. INTERNATIONAL CONFERENCE ON COMPUTERS IN URBAN PLANNING AND URBAN MANAGEMENT, 14., 2015, Cambridge. Proceedings […]. Cambridge: Cupum, 2015. p. 291.

MANN, M. The new climate war: the fight to take back our planet. New York: PublicAffairs, 2021.

MARQUES, L. Capitalismo e colapso ambiental. Campinas: Editora da Unicamp, 2019.

NASCIMENTO, A. A urbanização planetária neoliberal e o discurso da resiliência e da urbanização sustentável: uma reflexão crítica em torno da “nova agenda urbana global”. Cuadernos de Geografia: Revista Colombiana de Geografia, v. 20, n. 2, 2021.

PELTON, J.; SINGH, I. Smart cities of today and tomorrow: better technology, infrastructures and security. Berlin: Springer, 2019.

PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Plano Estratégico Campinas Cidade Inteligente (2019-2029). Disponível em: http://www.campinas.sp.gov.br/arquivos/desenvolvimentoeconomico/pecc-2019-2029.pdf. Acesso em: 21 set. 2019.

ROCHE, S. Geographic Information Science I: Why does a smart city need to be spatially enabled? Progress in Human Geography, n. 38, v. 5, p. 703-711, 2014.

RODRIGUES, A. A matriz discursiva sobre o “meio ambiente”: a produção do espaço urbano – agentes, escalas conflitos. In: CARLOS, A. F. A.; SOUZA, M. L. de; SPOSITO, M. B. E. (org.). A produção do espaço urbano: agentes e processos, escalas e desafios. São Paulo: Contexto, 2011.

SADOWSKI, J. Too smart: how digital capitalism is extracting data, controlling our lives, and taking over the world. Cambridge: The MIT Press, 2020.

SCO. Smart City Observatory. Smart City Index 2021. Disponível em: https://www.imd.org/smart-city-observatory/home/. Acesso em: 15 nov. 2022.

SHEPPARD, M. Sentient city: ubiquitous computing, architecture and the future of urban space. Cambridge: MIT Press, 2011.

SHEPPARD, E. Limits to globalization: disruptive geographies of capitalist development. Oxford: Oxford University Press, 2016.

SÖDERSTRÖM, O., MERMET, A. When Airbnb sits in the control room: Platform Urbanism as actually existing smart urbanism in Reykjavík. Frontiers in Sustainable Cities, v. 2, n. 15, 2020.

SÖDERSTRÖM, O.; PAASCHE, T.; KLAUSER, F. Smart city as corporate storytelling. City, v.18, n. 3, p. 307-320, 2014.

SRNICEK, N. Platform capitalism. Cambridge: Polity Press, 2017.

STABROWSKI, F. People as business: Airbnb and urban micro entrepreneurialism in New York. Cambridge Journal of Regions, Economy and Society, v. 10, p. 327-347, 2017.

STRAUBE, T. Situating data infrastructure. In: KITCHIN, R.; LAURIAULT, T. P.; McARDLE, G. (org.). Data and the city. Oxon: Routledge. 2018.

TAUBERER, J. Open government data: the book. 2.0 Edition, 2014. [Ebook].

TOWNSEND, A. Smart Cities: big data, civic hackers and the quest for new utopia. New York: Norton & Company, 2013.

TOZI, F. (org.). Plataformas digitais e novas desigualdades socioespaciais. São Paulo: Max Limonad, 2023.

UNECE. Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa. Collection Methodology for Key Performance Indicators for Smart Sustainable Cities. [S.l.]: Unece, 2017.

VAN DIJCK, J.; POELL, T.; DE WAAL, M. The platform society: public values in a connective world. Oxford: Oxford University Press. 2019.

VANOLO, A. Smartmentality: The smart city as a disciplinary strategy. Urban Studies, v. 51, n. 1, p. 883-898, 2014.

VANOLO, A. Is there anybody out there? The place and role of citizens in tomorrow’s smart cities. Futures, v. 82, p. 26-36, 2016.

YANG, J. Smart cities in China: a brief overview. IT Professional, v. 23, n. 3, 2021.

YE, L.; MANDPE, S.; MEYER, P. B. What is “Smart Growth” – Really? Journal of Planning Literature, v 19, n. 5, p. 301-315, 2005.

ZUBOFF, S. The age of surveillance capitalism. London: Profile Books, 2019.

Publicado

11-04-2025

Como Citar

Seixas, L. P., & Matias, L. F. (2025). Deus ex machina ou Cavalo de Troia? Considerações sobre quatro décadas de smart cities . Revista Brasileira De Estudos Urbanos E Regionais, 27(1). https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202505