Deus ex machina ou Cavalo de Troia? Considerações sobre quatro décadas de smart cities
DOI:
https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202505Palavras-chave:
Análise das políticas públicas, Desenvolvimento Urbano, Desigualdades socioespaciais, Espaço Urbano, Gestão Urbana e Regional, Planejamento urbano, Smart CitiesResumo
O apelo por smart cities vem ganhando importância nas cidades em todo o mundo há aproximadamente quatro décadas. Os estudos urbanos no Brasil pouco têm se dedicado a compreender as implicações desse processo de uma perspectiva crítica. O presente artigo parte de uma perspectiva cética sobre a capacidade das smart cities de se constituírem como respostas aos desafios urbanos, revelando as principais formas e conteúdos que elas assumiram ao longo de suas trajetórias marcadas por transformações, que se iniciam no contexto pós-crise do capitalismo fordista e têm seu estágio mais atual no contexto capitalista de plataforma, condicionando diferentes elementos no espaço urbano. O presente artigo investiga as principais definições de smart city propostas por diferentes agentes, buscando também desvendar seu conteúdo político-econômico. A conclusão é de que, apesar de aparentar ser mecanismo importante de melhoria da qualidade de vida, contraditoriamente elas apresentam potencial de aprofundar as desigualdades sócio-espaciais.
Downloads
Referências
ABÍLIO, L. Uberização: a era do trabalhador just-in-time? Estudos Avançados, v. 30, n. 98, p. 111-126, 2020.
ALDEGHEISHEM, A. Assessing the progress of smart cities in Saudi Arabia. Smart Cities. v. 6, n. 4, p. 1958-1972, 2023.
ALMEIDA, G. As consultorias imobiliárias para empresas e os “eficícios inteligentes”: uma análise para a cidade de São Paulo. 2012. 203 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2012.
ANTUNES, R. (org.). Icebergs à deriva: o trabalho nas plataformas digitais. São Paulo: Boitempo, 2023.
BAPTISTA, A. T.; BOUILLET, E.; POMPEY, P. Towards an uncertainty aware short-term travel time prediction using GPS bus data: case study in Dublin. In: INTERNATIONAL IEEE CONFERENCE ON INTELLIGENT TRANSPORTATION SYSTEMS, 15., 2012, Anchorage. Proceedings […]. Anchorage, Alaska: IEEE, 2012.
BARBOUR, N.; ZHANG, Y.; MANNERING, F. A statistical analysis of bike sharing usage and its potential as an auto-trip substitute. Journal of Transport and Health, v. 12, p. 253-262, 2019.
BARNS, S. Platform urbanism: negotiating platform ecosystems in connected cities. Sydney: Palgrave Macmillan, 2020.
BATTY, M. Big data, smart cities and city planning. Dialogues in Human Geography, v. 3, n. 3, p. 274-279, 2013.
BATTY, M. et al. Smart cities of the future. The European Physical Journal Special Topics, v. 214, p. 481-518, 2012.
BERMAN, M. All that is solid melts into air: The experience of modernity. London: Verso, 1983.
CALDEIRA, T. Peripheral urbanization: autoconstruction, transversal logics and politics in cities of the global south. Environment and Planning D: Society and Space, v. 35, n. 1, p. 3-20, 2017.
CAPES. Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Catálogo de Teses e Dissertações. Disponível em: https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/. Acesso em: 20 out. 2022.
CASTELLS, M. A sociedade em rede. 11. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2008.
CAVADA, M.; TIGHT, M. R.; ROGERS, C. D. F. A smart city case study of Singapore – Is Singapore truly smart? In: ANTHOPOULOS, L. Smart City Emergence. London: Elsevier, 2019. p. 295-314.
CITY OF LOS ANGELES. Smart LA 2028: technology for a better Los Angeles. Los Angeles: City of Los Angeles, 2020.
CUGURULLO, F. Frankenstein Urbanism: eco, smart and autonomous cities, Artificial Intelligence and the end of the city. London: Routledge. 2021.
DATTA, A. Postcolonial urban futures: imagining and governing India’s smart age. Environment and Planning D: Society and Space, v. 37, p. 393-410, 2019.
DAVIS, M. Planeta Favela. São Paulo: Boitempo, 2006.
DEGEN, M. M.; ROSE, G. The New Urban Aesthetic: digital experiences of urban change. London: Bloomsbury Publishing, 2022.
DUTTON, W. (ed.). Wired cities: shaping future communication. New York: Macmillan, 1987.
FRASER, N. Crise de legitimação? Sobre as contradições políticas do capitalismo financeirizado. Cadernos de Filosofia Alemã: Crítica e Modernidade, v. 23, n. 2, p. 153-188, 2018.
FRASER, N. O velho está morrendo e o novo não pode nascer. São Paulo: Boitempo, 2020.
FREITAS, J. A invenção da Cidade Inteligente Rio: uma análise do Centro de Operações Rio pela lente das mobilidades (2010-2016). 2018. Dissertação (Mestrado em História, Política e Bens Culturais) – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro, 2018.
GOLUBCHIKOV, O. People-smart sustainable cities. Geneva: United Nations. 2020.
GONZALES, L. Racismo e sexismo na cultura brasileira. Revista Ciências Sociais Hoje, p. 223-244, 1984.
GRAHAM, S. Cities under siege: the new military urbanism. London: Verso. 2011.
GRAHAM, S.; MARVIN, S. Planning cybercities: integrating telecommunications into urban planning. Town Planning Review, v. 70, n. 1, p. 89-114, 1999.
GREENFIELD, A. Against the smart city: the city is here for you to use. 1.3. ed. New York: Do Projects, 2013.
HANLEY, R. Moving people, goods, and information in the 21st century: the cutting-edge infrastructures of networked cities. London: Routledge 2004.
HARVEY, D. The condition of postmodernity: An enquiry to origins of cultural change. Oxford: Wiley-Blackwell, 1989.
HARVEY, D. O enigma do capital: e as crises do capitalismo. Tradução: João Alexandre Peschanski. São Paulo: Boitempo, 2011.
HOLLANDS, R. Will the real smart city please stand up? City, v. 12, n. 3. p. 303-320. 2008.
HOLLANDS, R. Critical interventions into the corporate smart city. Cambridge Journal of Regions, Economy and Society, v. 8, n. 1, 2015.
HOMERO. Ilíada. Tradução: Carlos Alberto Nunes. São Paulo: Ediouro, 2009.
ISHIDA, T.; ISBISTER, K. Digital cities: Technologies, experiences, and future perspectives. Berlin: Springer. 2000.
KANTER, R.; LITOW, S. Informed and connected: A manifesto for smarter cities. Boston: Harvard Business School, SSRN Electric Journey, 2009. (Working paper, 09-141).
KENNEY, M.; ZYSMAN, J. The platform Economy: restructuring the space of capitalist accumulation. Berkeley: BRIE, 2019. (BRIE Working paper, v. 11).
KHAN, S.; CAN, N. A.; MACHADO, H. Racism and racial surveillance: modernity matters. Routledge Research in Race and Ethnicity. London: Routledge, 2022.
KITCHIN, R. The programmable city. Environment and Planning B: Planning and Design, v. 38, p. 945-951, 2011.
KITCHIN, R. The data revolution: Big Data, Open Data, Data Infrastructures and their consequences. London: Sage, 2014.
KITCHIN, R. Reframing, reimagining and remaking smart cities. In: KITCHIN, R.; COLETTA, C.; EVANS, L.; HEAPHY, L. (ed.). Creating Smart Cities. London: Routledge, 2019.
KITCHIN, R.; COLETTA, C.; EVANS, L.; HEAPHY, L. Creating smart cities. London: Routledge. 2019.
KONMINOS, N. Intelligent cities: innovation, knowledge systems and digital spaces. London: Routledge, 2002.
LEFEBVRE, H. Espaço e Política. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2008.
LI, W.; BATTY, M.; GOODCHILD, M. F. Real-time GIS for smart cities. Journal of Geographical Information Science, 34(2), p. 311-324, 2020. DOI: https://doi.org/10.1080/13658816.2019.1673397.
LI, Y.; LIN, Y.; GEERTMAN, S. The development of smart cities in China. INTERNATIONAL CONFERENCE ON COMPUTERS IN URBAN PLANNING AND URBAN MANAGEMENT, 14., 2015, Cambridge. Proceedings […]. Cambridge: Cupum, 2015. p. 291.
MANN, M. The new climate war: the fight to take back our planet. New York: PublicAffairs, 2021.
MARQUES, L. Capitalismo e colapso ambiental. Campinas: Editora da Unicamp, 2019.
NASCIMENTO, A. A urbanização planetária neoliberal e o discurso da resiliência e da urbanização sustentável: uma reflexão crítica em torno da “nova agenda urbana global”. Cuadernos de Geografia: Revista Colombiana de Geografia, v. 20, n. 2, 2021.
PELTON, J.; SINGH, I. Smart cities of today and tomorrow: better technology, infrastructures and security. Berlin: Springer, 2019.
PREFEITURA MUNICIPAL DE CAMPINAS. Plano Estratégico Campinas Cidade Inteligente (2019-2029). Disponível em: http://www.campinas.sp.gov.br/arquivos/desenvolvimentoeconomico/pecc-2019-2029.pdf. Acesso em: 21 set. 2019.
ROCHE, S. Geographic Information Science I: Why does a smart city need to be spatially enabled? Progress in Human Geography, n. 38, v. 5, p. 703-711, 2014.
RODRIGUES, A. A matriz discursiva sobre o “meio ambiente”: a produção do espaço urbano – agentes, escalas conflitos. In: CARLOS, A. F. A.; SOUZA, M. L. de; SPOSITO, M. B. E. (org.). A produção do espaço urbano: agentes e processos, escalas e desafios. São Paulo: Contexto, 2011.
SADOWSKI, J. Too smart: how digital capitalism is extracting data, controlling our lives, and taking over the world. Cambridge: The MIT Press, 2020.
SCO. Smart City Observatory. Smart City Index 2021. Disponível em: https://www.imd.org/smart-city-observatory/home/. Acesso em: 15 nov. 2022.
SHEPPARD, M. Sentient city: ubiquitous computing, architecture and the future of urban space. Cambridge: MIT Press, 2011.
SHEPPARD, E. Limits to globalization: disruptive geographies of capitalist development. Oxford: Oxford University Press, 2016.
SÖDERSTRÖM, O., MERMET, A. When Airbnb sits in the control room: Platform Urbanism as actually existing smart urbanism in Reykjavík. Frontiers in Sustainable Cities, v. 2, n. 15, 2020.
SÖDERSTRÖM, O.; PAASCHE, T.; KLAUSER, F. Smart city as corporate storytelling. City, v.18, n. 3, p. 307-320, 2014.
SRNICEK, N. Platform capitalism. Cambridge: Polity Press, 2017.
STABROWSKI, F. People as business: Airbnb and urban micro entrepreneurialism in New York. Cambridge Journal of Regions, Economy and Society, v. 10, p. 327-347, 2017.
STRAUBE, T. Situating data infrastructure. In: KITCHIN, R.; LAURIAULT, T. P.; McARDLE, G. (org.). Data and the city. Oxon: Routledge. 2018.
TAUBERER, J. Open government data: the book. 2.0 Edition, 2014. [Ebook].
TOWNSEND, A. Smart Cities: big data, civic hackers and the quest for new utopia. New York: Norton & Company, 2013.
TOZI, F. (org.). Plataformas digitais e novas desigualdades socioespaciais. São Paulo: Max Limonad, 2023.
UNECE. Comissão Econômica das Nações Unidas para a Europa. Collection Methodology for Key Performance Indicators for Smart Sustainable Cities. [S.l.]: Unece, 2017.
VAN DIJCK, J.; POELL, T.; DE WAAL, M. The platform society: public values in a connective world. Oxford: Oxford University Press. 2019.
VANOLO, A. Smartmentality: The smart city as a disciplinary strategy. Urban Studies, v. 51, n. 1, p. 883-898, 2014.
VANOLO, A. Is there anybody out there? The place and role of citizens in tomorrow’s smart cities. Futures, v. 82, p. 26-36, 2016.
YANG, J. Smart cities in China: a brief overview. IT Professional, v. 23, n. 3, 2021.
YE, L.; MANDPE, S.; MEYER, P. B. What is “Smart Growth” – Really? Journal of Planning Literature, v 19, n. 5, p. 301-315, 2005.
ZUBOFF, S. The age of surveillance capitalism. London: Profile Books, 2019.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Categorias
Licença

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Autores/as que publicam nesta revista concordam com os seguintes termos:
1. Autores/as que publicam na RBEUR mantêm os direitos sobre a sua obra e concedem à revista o direito de primeira publicação, realizada sob a Licença Creative Commons Attribution que permite o compartilhamento do trabalho e assevera o reconhecimento da autoria e do veículo de publicação original, a RBEUR.
2. Autores/as têm liberdade para publicação e distribuição não-exclusiva da versão do trabalho publicada nesta revista (ex.: publicar em repositório institucional ou como capítulo de livro), reafirmando a autoria e o reconhecimento do veículo de publicação original, a RBEUR.