Drogas, moral e “hiperperiferias centrais” sob a lógica socioespacial fragmentária em São Paulo (Brasil) e Bogotá (Colômbia)

Autores/as

  • Thiago Godoi Calil Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente, SP, Brasil https://orcid.org/0000-0003-1052-6578
  • Eda Maria Góes Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente, SP, Brasil https://orcid.org/0009-0002-1248-4244

DOI:

https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202516

Palabras clave:

Espaço Urbano, Fragmentação Socioespacial, Conflitos espaciais do capitalismo, Desigualdade e segregação socioespacial, Drogas, Moral, América Latina

Resumen

A partir da análise de espaços centrais que concentram consumo de drogas ilícitas nas cidades de São Paulo (Brasil) e de Bogotá (Colômbia), este artigo tem o objetivo de propor novas perspectivas sobre a relação centro-periferia, levando em conta o impacto do dispositivo das drogas e da moral a ele associada. Como procedimentos metodológicos, utilizaram-se observações de campo, pesquisa documental e revisão bibliográfica na interface entre o conceito de periferia e os espaços estudados. A identificação de códigos compartilhados e conteúdos semelhantes entre a periferia e o centro problematiza a tradicional oposição centro-periferia, evidenciando a complexidade da atual realidade urbana latino-americana e a necessidade de atualizar os conceitos disponíveis para compreendê-la. Aproximar as realidades de São Paulo e Bogotá permitiu lançar a hipótese de que a moral associada à ilegalidade pode intensificar processos de fragmentação socioespacial, resultando em “hiperperiferias centrais”, enclaves com conteúdo “periférico” em pleno centro.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Thiago Godoi Calil, Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente, SP, Brasil

Pós-doutorando em Geografia Urbana na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Presidente Prudente (SP). Psicólogo, com ênfase na Psicologia Social, busca promover a ética do cuidado, principalmente com pessoas em condições de vulnerabilidade social e desigualdade política e econômica. Visa conectar a área da saúde e a produção do espaço urbano na interface entre as drogas, as pessoas e a cidade, considerando as forças que incidem nesse campo, como as políticas públicas, as políticas de drogas, o estigma, a criminalização da pobreza, a violência estatal, o mercado, a segregação socioespacial, a fragmentação socioespacial e as possíveis estratégias de garantia de direitos e coesão comunitária em contextos latino-americanos. 

Eda Maria Góes, Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Presidente Prudente, SP, Brasil

Professora da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Presidente Prudente (SP), atuando nos cursos de graduação em Geografia e Arquitetura e Urbanismo e no programa de pós-graduação em Geografia. Historiadora com experiência nas áreas de História, particularmente História da Cidade, mas também Geografia Urbana, enfocando principalmente os seguintes temas: insegurança urbana, consumo, espaço público, segregação e fragmentação socioespacial, práticas espaciais, habitação de interesse social, cidades médias e produção do espaço urbano. 

Citas

ADORNO, R. C. F.; RUI, T.; SILVA, S. L.; MALVASI, P.; VASCONCELLOS, M. P.; GOMES, B. R.; GODOI, T. C. Etnografia da Cracolândia: notas sobre uma pesquisa em território urbano. Revista Saúde & Transformação Social, Florianópolis, v. 4, n. 2, p. 4-13, 2013.

ALMANDOZ, A. Planning Latin American’s Capital Cities, 1850-1950. London: Routledge, 2002.

ARANTES, P. E. A fratura brasileira do mundo: visões do laboratório brasileiro da mundialização. São Paulo: Editora 34, 2023.

ARIAS, J. A. A. et al. Entre el Cartucho y el Bronx en Bogotá: ¿territorios del miedo o expresiones de injusticia socioespacial? Cuad. Geogr. Rev. Colomb. Geogr., v. 28, n. 2, p. 442-59, 2019.

ÁVILA, M. P. “Periferia é periferia em qualquer lugar?” Antenor Garcia: estudo de uma periferia interiorana. 2006. Dissertação (Mestrado em Ciências Humanas) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2006.

BERGMAN, M. El negocio del crimen. El crecimiento del delito, los mercados ilegales y la violencia en América Latina. 1. ed. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: Fondo de Cultura Económica, 2023.

BERNAL, S. J. S. Imagen y memoria de la transformación urbana de San Victorino. Rev. Bitácora Urbano Territorial, v. 10, n. 1, p. 234-47, 2006.

BIEHL, J. Antropologia do devir: psicofármacos – abandono social – desejo. Revista de Antropologia, v. 51, n. 2, p. 413-49, 2008.

BONDUKI, N. Origens da habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade, 2004.

BRANQUINHO, E. S. Campos Elíseos no centro da crise: a reprodução do espaço no Centro de São Paulo. 2007. Tese (Doutorado em Geografia) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

BRITTO, N. D. S. S. Da cidade industrial segregada à cidade pós-industrial fragmentada: reflexões sobre a (re)produção do espaço urbano na cidade de Pelotas-RS. Geousp – Espaço e Tempo, v. 20, n. 3, p. 585-601, 2016.

BRONX: el problema viene desde la colonia. Semana, Bogotá, 3 jun. 2016. Disponível em: https://www.semana.com/bronx-origen-de-la-delincuencia-en-el-centro-de-bogota/476367/. Acesso em: 17 fev. 2025.

CALDEIRA, T. P. do R. A política dos outros – o cotidiano dos moradores da periferia e o que pensam do poder e dos poderosos. São Paulo: Brasiliense, 1984.

______. Cidade de muros: crime, segregação e cidadania em São Paulo. São Paulo: Editora 34-Edusp, 2000.

CALIL, T. G. Condições do lugar: relações entre saúde e ambiente para pessoas que usam crack no bairro da Luz, especificamente na região denominada Cracolândia. 2015. Dissertação (Mestrado em Ciências) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.

______. As pessoas, as drogas e as cidades: consumo do espaço e efeitos sociais em cidades latino-americanas – aproximações entre São Paulo, Bogotá e Medellín. 1. ed. São Paulo: Editora Unesp, 2022.

CANETTIERI, T. A condição periférica: uma crítica da economia política do espaço em paralaxe. 2019. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2019.

CERQUEIRA, E. D. V. Da periferia às periferias? Pela criação de um novo quadro analítico dos espaços periféricos. Cadernos de Arquitetura e Urbanismo, v. 27 n. 41, 2020.

CORTÉS, E.; METAAL, P. Mercados de cocaína fumable en América Latina y el Caribe: llamamiento a favor de una respuesta sostenible en materia de políticas. Amsterdam: TNI, 2019. Disponível em: https://www.tni.org/es/publicaci%C3%B3n/mercados-de-cocaina-fumable-en-america-latina-y-el-caribe. Acesso em: 17 fev. 2025.

CRUZ, T. S. da; LEGROUX, J. Estigma territorial e diferenciações socioespaciais da/na periferia: o caso do Pimentas (Guarulhos-SP). Terra Livre, [s. l.], v. 2, n. 59, p. 396-435, 2022.

D’ANDREA, T. Contribuições para a definição dos conceitos periferia e sujeitas e sujeitos periféricos. Novos Estudos Cebrap, v. 39, n. 1, p. 19-36, jan. 2020.

DIXON, J.; LEVINE, M.; MCAULEY, R. Locating Impropriety: Street Drinking, Moral Order, and the Ideological Dilemma of Public Space. Political Psychology, v. 27, n. 2, p. 187-206, 2006.

DURÁN, F. E. Cidades sem limites. In: MACHADO, A. S. (Org.). Trabalho, economia e tecnologia: novas perspectivas para a sociedade global. São Paulo: Tendez; Bauru: Práxis, 2003.

FELTRAN, G. de S. Fronteiras de tensão. Política e violência nas periferias de São Paulo. São Paulo: Editora Unesp, Cebrap, 2011.

______. Formas elementares da vida política: sobre o movimento totalitário no Brasil (2013-). Blog Novos Estudos Cebrap, 2020. Disponível em: http://novosestudos.com.br/formas-elementares-da-vida-politica-sobre-o-movimento-totalitario-no-brasil-2013/. Acesso em: 17 fev. 2025.

FIGUEIRAS, B. S. C. Metrópoles em crise: vida urbana na América Latina contemporânea e a problemática dos vínculos sociais. Cadernos IPPUR, a. XXII, n. 1, p.173-92, 2008.

FROMM, D.; BLOKLAND, T. São Paulo’s Crackland as Urban Impasse: An Ethnographic Account of Mobility, Territory and Viração as Form of Nomadism. Tijdschrift voor economische en sociale geografie, v. 115, n. 2, p. 234-47, 2024.

FRÚGOLI, H. J.; CAVALCANTI, M. Territorialidades da(s) cracolândia(s) em São Paulo e no Rio de Janeiro. Anuário Antropológico, v. 38 n. 2, 2013. Disponível em: http://journals.openedition.org/aa/561. Acesso em: 17 fev. 2025.

GÓES, E. M.; SPOSITO, M. E. B. A insegurança e as novas práticas espaciais em cidades brasileiras. Scripta Nova – Revista Electrónica de Geografía y Ciencias Sociales. Barcelona: Univ. Barcelona, Dept. Geografia Humana, v. 18, n. 493, 2014.

GORELIK, A. A produção da cidade latino-americana. Tempo Social, v. 17, n. 1, p. 111-33, jun. 2005.

GUIMARÃES, L. B. M. Luz. São Paulo: Novos Horizontes Editora, 1977.

HAESBAERT, R. Viver no limite – território e multi/transterritorialidade em tempos de in-segurança e contenção. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2014.

HAMEL, P.; KEIL, R. Governance in an Emerging Suburban World. Cadernos Metrópole, v. 18, n. 37, p. 647-70, set. 2016.

HARVEY, D. Espaços de esperança. 7. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2015.

JOANIDES, H. M. Boca do lixo. 3. ed. São Paulo: Edições Populares, 1977.

KEIL, R. Extended Urbanization, “Disjunct Fragments” and Global Suburbanisms. Environment and Planning D: Society and Space, v. 36, n. 3, p. 494-511, Jun. 2018.

KOHARA, L.; COMARÚ, F. A moradia é a base estruturante para a vida e a inclusão social da população em situação de rua. Curitiba: CRV, 2023.

KOWARICK, L. Espoliação urbana. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1980.

LANG, R.; KNOX, P. K. The New Metropolis: Rethinking Megalopolis. Regional Studies, v. 43, n. 6, p. 789-802, Jul. 2009.

LEGROUX, J. A lógica urbana fragmentária: delimitar o conceito de fragmentação socioespacial. Caminhos de Geografia, v. 22, n. 81, p. 235-48, jan. 2021.

MAGNANI, J. G. C. Quando o campo é a cidade. In: MAGNANI, J. G. C.; TORRES, L. L. (Orgs.). Na metrópole – textos de antropologia urbana. São Paulo: Edusp, 1996.

MARICATO, E. Metrópole na periferia do capitalismo. São Paulo: Hucitec, 1996.

MELARA, E. “Fortified Cell” e “Dangerous Places”: Processos de fragmentação do tecido sociopolítico-espacial em cidades médias – Resende e Volta Redonda-RJ. Revista Espaço Aberto, v. 7, p. 57-77, 2018.

MORCUENDE, A. Por trás das origens da fragmentação socioespacial. Mercator, v. 20, 2021.

MORRIS, I.; GARZÓN, G. El Cartucho. Del Barrio Santa Inés al Callejón de la Muerte. Bogotá: Torre Gráfica, 2010.

NASSER, M. M. S. Cracolândia como campo de gravitação. Ponto Urbe, v. 21, 2017.

OLIVEIRA, F. de. O vício da virtude: autoconstrução e acumulação/capitalista no Brasil. Novos Estudos Cebrap, n. 74, p. 67-85, mar. 2006.

PHELPS, N.; WU, F. (Orgs.). International Perspectives on Suburbanization: A Post-suburban World? London: Palgrave Macmillan, 2011.

POZZO, C. F. dal. Fragmentação socioespacial: práticas espaciais do consumo segmentado em Ribeirão Preto e Presidente Prudente. Revista da Anpege, [s. l.], v. 11, n. 16, p. 279-324, 2017.

PRÉVÔT-SCHAPIRA, M. Fragmentación espacial y social: conceptos y realidades. Perfiles Latinoamericanos, FLCS, DF – México, n. 19, p. 33-56, dez. 2001.

REN, X. The Peripheral Turn in Global Urban Studies: Theory, Evidence, Sites. South Asia Multidisciplinary Academic Journal, v. 26, 2021. Disponível em: http://journals.openedition.org/samaj/7413. Acesso em: 17 fev. 2025.

ROA, Ó. A. A. Bogotá inconclusa: los estragos de la desigualdad y la segregación socioespacial. Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2023.

ROITMAN, S.; PHELPS, N. Do Gates Negate the City? Gated Communities’ Contribution to the Urbanisation of Suburbia in Pilar, Argentina. Urban Studies, v. 48, n. 16, p. 3487-509, 2011.

ROLNIK, R. Territórios negros nas cidades brasileiras: etnicidade e cidade em São Paulo e Rio de Janeiro. In: SANTOS, R. E. (Org.). Diversidade, espaço e relações étnico-raciais: o negro na geografia do Brasil. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.

______. Paisagens para renda, paisagens para vida: disputas contemporâneas pelo território urbano. Indisciplinar, v. 5, n. 1, p.18-43, 2019.

ROSA, P. P. V. Políticas públicas em agricultura urbana e periurbana no Brasil. Revista Geográfica de América Central, v. 2, n. 47E, 2011.

ROY, A. Slumdog Cities: Rethinking Subaltern Urbanism. International Journal of Urban and Regional Research, v. 35, n. 2, p. 223-38, Mar. 2011.

RUI, T. Usos da Luz e da Cracolândia: etnografia de práticas espaciais. Saúde e Sociedade, v. 23, p. 91-104, 2014.

SAMORINI, G. Las fechas más antiguas de la relación humana con las drogas. Revista Cultura y Droga, v. 21, n. 23, p. 91-113, 2016.

SANTOS, M. Metrópole corporativa e fragmentada: o caso de São Paulo. São Paulo: Hucitec, 1990.

SILVA, K. A. A. da; TEIXEIRA, V. M. de L.; SPOSITO, E. S. Novas expressões de centralidades urbanas e a diferenciação socioespacial: um olhar através das práticas espaciais. Geografares, [s. l.], v. 1, n. 33, p. 113-39, 2021.

SPOSITO, M. E. B.; GÓES, E. M. Espaços fechados e cidades: insegurança urbana e fragmentação socioespacial. São Paulo: Editora Unesp, 2013.

SUÁREZ, C. J. Políticas de renovação urbana no Centro Histórico de Bogotá, Colômbia. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 14, n. 2, p. 147-68, 2012.

TILLY, C. War Making and State Making as Organized Crime. In: EVANS, P.; RUESCHEMEYER, D.; SKOCPOL, T. (Orgs.) Bringing the State Back. New York: Cambridge University Press, 1985. p. 169-91.

TORRES, H. da G.; MARQUES, E. C. Reflexões sobre a hiperperiferia: novas e velhas faces da pobreza no entorno municipal. Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, v. 49, n. 4, p. 49-70, 2001.

TOVAR, M. et al. Destapando la olla: informe sombra sobre la intervención en el Bronx. Bogotá, 2017.

URIARTE, U. M. O que é fazer etnografia para os antropólogos. PontoUrbe, v. 11, a. 6, 2012.

VALE, A. R. Expansão urbana e plurifuncionalidade do espaço periurbano do município de Araraquara-SP. 2005. Tese (Doutorado em Geografia) – Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, 2005.

VENTURI, G. Consumo de drogas, opinião pública e moralidade: motivações e argumentos baseados em uso. Tempo Social, v. 29, n. 2, p. 159-86, 2017.

VENTURI, G.; BOKANY, V. (Orgs.). Diversidade sexual e homofobia no Brasil. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2011.

Publicado

2025-04-11

Cómo citar

Calil, T. G., & Góes, E. M. (2025). Drogas, moral e “hiperperiferias centrais” sob a lógica socioespacial fragmentária em São Paulo (Brasil) e Bogotá (Colômbia) . Revista Brasileira De Estudos Urbanos E Regionais, 27(1). https://doi.org/10.22296/2317-1529.rbeur.202516

Número

Sección

Dossier: La “poli-periferia” y el “giro periférico” en los estudios urbanos

Categorías